terça-feira, 26 de abril de 2011

COMPARAÇÃO DE PARÂMETROS FISIOLÓGICOS DE EQUIPES DE FUTSAL


COMPARAÇÃO DE PARÂMETROS FISIOLÓGICOS DE EQUIPES DE FUTSAL

CORRÊA, Leandro Quadro 1; SILVEIRA, Daniel Fossati 2 & ROMBALDI, Airton José3

1. Prof. Especializando em atividade física e Promoção da Saúde ESEF-UFPel

2. Acadêmico ESEF-UFPel e estagiário do Laboratório de Bioquímica e Fisiologia do Exercício

3. Professor Doutor Adjunto do Departamento de Desporto da ESEF-UFPel

Laboratório de Bioquímica e Fisiologia do Exercício - ESEF-UFPel. leandroqc@hotmail.com


1. INTRODUÇÃO

Embora o futsal ainda não seja um esporte olímpico, este abrange grande dimensão, pois é praticado em quase todos os países de todos os continentes, tendo em vista as competições realizadas não só para seleções como para clubes. E se formos falar a níveis de Brasil é só tomarmos como base o número de títulos mundiais conquistados pela nossa seleção e o número de equipes nacionais que já conquistaram competições deste nível.

O futsal está inserido no contexto dos jogos esportivos coletivos, sendo assim seu processo de ensino-aprendizagem-treinamento deve ser orientado através do desenvolvimento harmônico, integrado e simultâneo dos componentes do rendimento esportivo capacidades físicas, táticas, coordenativas, técnicas etc. (SOUZA 1999). Apesar disto, GRECO & BENDA (1996), apontam que nas diferentes fases do processo evolutivo e, conforme o ciclo ou momento de periodização, alguns elementos ou capacidades inerentes à unidade estrutural terão uma ênfase diferenciada.

Este esporte tem uma característica de colaboração e oposição, com uma solicitação energética mista (aeróbia-anaeróbia), com solicitação muscular dinâmica geral, e se caracteriza por ter esforços intermitentes e recuperações incompletas que são feitas de maneira ativa e passiva com variada duração (MEDINA, 2002).

Desta maneira, o objetivo deste trabalho foi, avaliar algumas variáveis fisiológicas, quem foram o consumo máximo de oxigênio e o limiar anaeróbio, que interferem diretamente tanto nas ações de jogo como nos intervalos de recuperação da musculatura de atletas de uma equipe de futsal da zona sul no período pré preparatório, tendo como referência uma equipe de nível nacional que serviu de padrão de comparação em um mesmo período de treinamento.


2. METODOLOGIA

2.1. Sujeitos

A amostra selecionada intencionalmente, foi composta por 10 atletas da seleção de futsal de Jaguarão (SJ), com características apresentadas na (TABELA 1).

2.2. Métodos

Foi utilizado o teste de consumo máximo de oxigênio (VO2max), protocolo Shutle Run test proposto e validado por Léger (1982), no qual consiste em um protocolo progressivo máximo, onde é demarcado um trajeto de 20 metros que deve ser percorrido pelos jogadores e a cada estágio a velocidade de corrida é aumentada; a velocidade é determinada por sinais sonoros emitidos através bips reproduzidos por um aparelho de som.

O número de estágios realizados no teste (NET), por cada um dos atletas foi registrado, sendo que o último estágio completo foi utilizado para determinação do consumo máximo de oxigênio.

Também foi avaliada a velocidade de Limiar anaeróbio (VLIMAn) dos sujeitos, afim de se poder ter um padrão de comparação do limiar anaeróbio dos atletas avaliados por nós com atletas de outra equipe.

As avaliações e os resultados foram baseados e comparados com os dados de uma equipe de futsal que disputava a série ouro (EQSO) do campeonato gaúcho desta modalidade estudada por (FILHO TOURINHO, 2001).

2.3. Tratamento Estatístico

Foi utilizado o pacote estatístico SPSS for Windows 13.0, para análise dos resultados, a normalidade das variáveis também foi avaliada através deste pacote estatístico. Para ver se haviam diferenças significativas entre o VO2max, o nº de estágios do teste e a VLIMAn entre as duas equipes, utilizou-se o teste-t de student para amostras independentes e para ver se haviam associações entre as variáveis analisadas, utilizou-se a correlação de Spearman. O nível de significância aceito foi de p< 0,05.

Tabela 1. Apresenta as características dos sujeitos da amostra e da equipe da série ouro apresentadas como Médias ± desvios-padrão.

Variáveis

Jaguarão

Série ouro

Peso (kg)

69,9 ± 7,4

73,40 ± 7,55

Estatura (cm)

174,5 ± 5,5

175,6± 6,2

IMC (kg/m2)

23,22 ± 2,1

23,91± 3,5

% de gordura

13,0 ± 1,9

11,88± 1,70

Número de estágios - Léger

8,0 ± 1,33

11,6± 1,2 *

VO2max - mL.kg-1.min-1

44,9 ± 4,0

55,6 ±3,6 *

* p< 0,05


3. RESULTADOS

Ao aplicarmos o teste-t para comparações entre as médias das equipes, notamos diferenças significativas entre o VO2max, 55,6 ± 3,6 mL.kg-1.min-1 da EQSO contra 44,9 ± 4,0 mL.kg-1.min-1 SJ (p=0,000009), resultados apresentados na figura 1. O nº de estágios do teste também foi maior na EQSO, 11,6 ± 1,2 contra 8,0 ± 1,33 (p=0,000009); assim como a VLIMAn, 235,4 ± 18,77 m/min para EQSO x 135,9±19,02 m/min para SJ (p=0,000000), resultado presente na figura 2.


4. DISCUSSÃO

As características das partidas de futsal, de forma diferenciada do futebol, indicam uma movimentação intensa de todos os participantes acarretando um alto gasto energético, bem como uma solicitação metabólica e neuromuscular extremamente elevada (CYRINO, 2002).

A demanda metabólica está diretamente associada às fontes energéticas envolvidas no esporte. Neste estudo, avaliamos o consumo máximo de oxigênio, o NET e a VELAan, da equipe de Jaguarão e, notamos que as três variáveis estudadas eram inferiores na equipe avaliada por nós em comparação com EQSO, o que indica a necessidade de melhorias na condição aeróbia dos atletas de Jaguarão.

Para FILHO TOURINHO (2001), os efeitos do treinamento de resistência aeróbia sobre o organismo são fundamentais para servir de alicerce na preparação física dos atletas, oferecendo estrutura ao organismo do atleta para que suporte cargas mais intensas de treinamento durante sua preparação em uma temporada esportiva.

Notamos também que houve correlação entre o NET, VLAna e o VO2max, resultados estes apresentados nas duas equipes, mostrando que quanto maior o número de estágios no teste maior o consumo máximo de oxigênio e, conseqüentemente maior a velocidade de limiar.

Ao detectarmos tais resultados, percebemos a necessidade de melhorar o VO2max dos atletas avaliados por nós, pois melhorando esta capacidade física, automaticamente conseguiremos incrementos no limiar anaeróbio dos atletas. Para STØLEN (2005), regimes de treinamento para melhorar o consumo de oxigênio, são a melhor maneira de se melhorar o limiar anaeróbio, que se eleva substancialmente em termos absolutos , porém não na mesma porcentagem do VO2max.

Estas diferenças também podem ser reflexo do condicionamento físico dos atletas, pois de acordo com COYLE (1984), indivíduos altamente treinados, e que exercitam-se regularmente por um longo período de tempo, respondem melhor ao processo de destreinamento do que indivíduos que treinam apenas por poucos meses. Esta é uma das características da seleção de Jaguarão que disputa apenas competições na região Sul, e que normalmente duram entre três a quatro meses, e não mantêm suas atividades ao longo do ano, enquanto a outra equipe disputava competições durante todo ano, inclusive competições nacionais.


Figura 1. Apresenta os valores de VO2max da equipe de Jaguarão e da EQSO

Figura 2. Apresenta os valores de velocidade de limiar da equipe de Jaguarão e da EQSO

Figura 1 Figura 2


5. CONCLUSÃO

Os resultados encontrados indicam nos mostram que a equipe da série ouro apresentava-se em melhores condições físicas que a seleção de Jaguarão no mesmo período de preparação, e que, o VO2max, está diretamente associado ao número de estágios do teste aplicado, ou seja, quanto mais estágios o atleta realizar maior será seu consumo máximo de oxigênio, assim como quanto mais elevado for o VO2max, maior será a velocidade de limiar anaeróbio. As diferenças encontradas podem refletir o nível dos atletas, sendo que uma das equipes éra de nível nacional na época enquanto a outra disputava competições regionais.


6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. COYLE, E. F.; MARTIN, W. H.; SINACORE, D. R.; JOINER, M. J.; HAGBERG, J. M. Time course of loss of adaptations after stopping prolonged intense endurance training. Journal of Applied Physiology. V .57, n. 6, p. 1857-1864, 1984.
  2. CYRINO, E.S.; ALTIMARI, L.R.; OKANO, A.H.; COELHO, C.F. Efeitos do treinamento de futsal sobre a composição corporal e o desempenho motor de jovens atletas. Revista Brasileira de Ciência e Movimento. v. 10, p. 41-46, 2002.
  3. GRECO, P. J.; BENDA, R. N. & CHAGAS, M. H. Aprendizagem do gesto técnico esportivo. In: GRECO, P. J.; SAMULSKI, D.; CARAN JÚNIOR, E. Atualidades em educação física e esportes. Belo Horizonte: editora Health, 1996.
  4. LÉGER, L.A. ; MERCIER, D.; GADOURY, C.; LAMBERT, J.A. The multistage 20 meters shuttle run test for aerobic fitness. Journal of Sports Sciences. v. 6, p. 93-101, 1998.
  5. MEDINA, Á J.; SALILLAS, L.; VIRÓN, P.; MARQUETA, P. Necesidades cardiovasculares y metabólicas del fútbol sala: análisis de la competición. Apunts – Educación Física e Deportes. v. 67: p. 45-51, 2002.
  6. SOUZA, P. R. C. de. Proposta de avaliação e metodologia para desenvolvimento do conhecimento tático em esportes coletivos: a exemplo do futsal. I prêmio INDESP de literatura desportiva. Brasília: Instituto Nacional de Desenvolvimento do Desporto: publicações INDESP, 1999.
  7. Tomas Stølen, Karim Chamari, Carlo Castagna & Ulrik Wisløff. Physiology of Soccer an update. Sports Medicine. v. 35, p. 501-536, 2005.
  8. TOURINHO FILHO, H. Periodização de Regimes de Treinamentos Antagônicos: Um Estudo Sobre o Futsal. Tese de Doutorado, Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo, 2001, 261p.

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